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domingo, 23 de outubro de 2011

Texto: ENEM: UMA AVALIAÇÃO QUE VEIO PARA FICAR: PONTOS E CONTRAPONTOS E A ARTICULAÇÂO DENTRO DO ENSINO DE HISTÓRIA

ENEM: UMA AVALIAÇÃO QUE VEIO PARA FICAR: PONTOS E CONTRAPONTOS E A ARTICULAÇÂO DENTRO DO ENSINO DE HISTÓRIA

RESUMO

Este trabalho analisa as questões da avaliação do conhecimento escolar e a sua abordagem sobre o conhecimento histórico escolar que tem sido produzido na atualidade. Relacionando-o às discussões atuais acerca do Ensino de História e do próprio sistema de avaliação educacional após a implantação das novas modalidades de avaliação do sistema escolar no Ensino Médio. Apesar das grandes discussões pedagógicas e uma proliferação de estudos e debates acerca desta avaliação e do ensino de História, um cenário tradicional ainda persiste. Debater, dialogar, produzir trabalhos sobre esta forma de avaliação e do ensino de História se torna urgente para efetivarmos as novas propostas para as disciplinas e questões elaboradas e discutidas neste novo século.

Palavras-Chave: Educação, Ensino de História, Avaliação, Enem.

INTRODUÇÃO

A História e o ensino de história têm sido nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, campo e objeto de pesquisa de vários estudiosos. Dentre os vários recortes possíveis a esta ampla temática vale destacar a grande preocupação com a prática de ensino da disciplina e as concepções historiográficas abordadas em determinados períodos da história brasileira. Busca se nas universidades e entre os professores do ensino escolar, a análise dos resultados produzidos. É considerado como relevante no processo educacional e identificar ou apreender e avaliar o conhecimento histórico escolar produzido desde a implantação do ensino obrigatório da disciplina no século XIX.

Percebe-se que o grande interesse destes pesquisadores por tais temáticas pode ser vinculado às mudanças ocorridas nas políticas educacionais no Brasil e à renovação da produção historiográfica brasileira ocorrida no fim do século XX. Após estas reformas que tiveram sua maior intensidade na década de 1990 a sociedade brasileira passou a viver intensamente um momento de discussão e reconstrução de seu sistema educacional e a percepção de grau de importância para o mesmo no processo evolutivo social moderno e globalizado.
Através de uma análise crítica buscamos perceber a dinâmica destas reformas, num mundo globalizado e contraditório onde temos superprodução de mercadorias, enquanto milhões de pessoas estão na pobreza. O século XXI inicia-se com uma sociedade extremamente globalizada em termos econômicos, culturais e tecnológicos. Devido ao desenvolvimento tecnológico da eletrônica, da informática e das telecomunicações a educação também tem seus moldes atualizados e inseridos ao contexto maior que gerencia as relações entre os setores fundamentais do país. Os acontecimentos e notícias circulam de forma quase que instantânea, recebemos todos os dias uma avalanche de informações e de necessidades de atualizações sobre diferentes aspectos sociais inclusive o educacional.

A ESCOLA

A escola hoje pressionada por inúmeras solicitações da sociedade, no sentido de alterar suas práticas pedagógicas, já há muito incorporadas e legitimadas. O fracasso escolar e os elevados índices de evasão e repetência tornaram-se entraves sérios aos processos de escolarização das massas. Se antes podiam ser justificados por razões externas à escola, culpando as próprias crianças, os jovens e suas famílias por tais produtos, as pesquisas sociológicas desenvolvidas após a Segunda metade do século XX trouxeram conhecimentos fundamentais, que geraram uma nova visão, atribuindo-se à sociedade, uma parcela de responsabilidade pelo processo de discriminação e produção de desigualdades.

Como saber se estamos no caminho certo? Como saber se estamos atingindo uma educação satisfatória? E esta não só nos níveis da esfera municipal de aprendizado, mas também nos níveis estaduais e federais. Dessa forma é preciso, entretanto, construir uma prática avaliativa em que todos se reconheçam seja dentro ou fora da escola, avaliando os órgãos públicos do sistema ou os alunos em sala de aula. Em contrapartida, é preciso garantir que, se reconhecendo nesta avaliação, todos os envolvidos assumam uma parcela de responsabilidade pelo seu sucesso. Logo, partindo das primícias desta demanda e necessidade que estão por motivos gerais já citados e explicitados surge nas instancias municipais, estaduais e federais como medidas e formas avaliativas as avaliações sistêmicas.

O QUE SÃO AVALIAÇÕES SISTÊMICAS?

Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben que é Doutora em Educação pela FAE/UFMG, conceitua assim; “Avaliação Sistêmica é uma modalidade de avaliação, em larga escala, desenvolvida no âmbito de sistemas de ensino visando, especialmente, a subsidiar políticas públicas na área educacional. Constitui-se em um mecanismo privilegiado capaz de fornecer informações, sobre processos e resultados dos sistemas de ensino, às instâncias encarregadas de formular e tornar decisões políticas na área da educação. É uma estratégia que pode influenciar a qualidades das experiências educativas e a eficiência dos sistemas, evitando o investimento público de maneira intuitiva, desarticulada ou insuficiente para atender às necessidades educacionais.”

O desenvolvimento de um sistema nacional de avaliação no Brasil é bastante recente e ainda pouco estudado. A instituição de programas dessa natureza começou a ser discutida em meados da década de 80, época em que se debatia o processo de democratização do país. Neste contexto, as principais questões focalizadas eram o acesso à escola e a qualidade do ensino oferecida pelos diferentes sistemas, tanto na esfera pública quanto na privada. Alertava-se sobre o fato de não existirem informações precisas sobre o comportamento dos sistemas de ensino e sobre os resultados dos investimentos públicos em educação.

O ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO)

O ENEM foi instituído em maio de 1998, destinado aos alunos egressos do ensino médio. O modelo de avaliação adotado se estrutura a partir da articulação entre competências e habilidades e entre o conceito de educação básica e de cidadania. Segundo os seus idealizadores, o conhecimento se constrói a partir das interações realizadas pelo cidadão com a vida. Portanto, os conceitos, as idéias, as leis, as teorias, os fatos, as pessoas, a história, o espaço geográfico, a ética e os valores (conteúdos tradicionais das ciências, das artes e da filosofia) são produzidos nestas interações. A capacidade de leitura da realidade não é, assim, uma questão disciplinar, como geralmente é tratada na escola. O exame busca verificar a capacidade do participante de utilizar o conhecimento construído durante o seu percurso da escolarização em situações-problema. Essas situações são apresentadas em forma de questões elaboradas a partir de uma matriz que articula 5 competências expressas a partir de 21 habilidades. O participante deve demonstrar possuir instrumental de leitura e resposta às questões do mundo que o cerca. (Relatório Final 2000, p. 11).

No entanto para Sandra Zákia Lian de Souza e Romualdo Portela de Oliveira já em 2003 faziam uma alusão da suas expectativas sobre o Enem; “O Exame Nacional do Ensino Médio tem uma especificidade a ser observada: apresenta-se como um exame em que o aluno é que decide sobre a conveniência de participar, após a conclusão do ensino médio, sob a promessa de que “seu futuro passa por aqui”, frase constante de material informativo divulgado pelo INEP. De modo explícito, fica evidenciada a visão individualizada com que é tratado o processo educacional, sendo atribuída, ao aluno, individualmente, a responsabilidade pelas eventuais competências ou incompetências que o exame vier a demonstrar. No documento do INEP, já mencionado, lê-se: “O ENEM poderá lhe mostrar, enfim, em que áreas você precisa caprichar ainda mais para ter sucesso pessoal e profissional. “Desse modo, você terá uma avaliação do seu potencial e poderá tomar as decisões mais adequadas aos seus desejos e às suas escolhas futuras”. Em nenhum momento se lê algo como: o ENEM poderá mostrar, enfim, quais vêm sendo os resultados das ações empreendidas pelos órgãos governamentais. Ou algo do tipo: MEC: seu futuro passa por aqui!”

COMO O ENEM SE TORNA DEFINITIVAMENTE UMA FORMA DE AVALIAÇÃO DO ENSINO MÉDIO E AUTOMATICAMENTE UM CRITÉRIO DE SELEÇÃO PARA O ENSINO SUPERIOR?

Como observamos vemos que a data em questão registrada no relatório da Doutora Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben é o ano de 2000, e como bem sabemos essa realidade se transformou desde então e o Enem tem sua ampliação no campo avaliativo em todas as esferas e instancias da administração educacional brasileira. O Enem a partir da década de 2000 passa a ser utilizado como critério de pontuação no processo seletivo de diversas universidades do país. Inclusive e principalmente as universidades federais. Sendo este que estas linhas esta digitando (Lucimar Simon) um dos “beneficiados”. O Enem foi vinculado ao processo seletivo da UFES. (Universidade Federal do Espírito Santo) a parir de 2005.

A ARTICULAÇÃO DENTRO DO ENSINO DE HISTÓRIA

Deixo aqui como exemplo a analise das habilidades e competências de duas questões de história para entender como são articuladas dentro do conteúdo de História.

Questão 55 (Enem, 2003). Resposta (E) Prova amarela

O texto abaixo é um trecho do discurso do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, pronunciado quando da declaração de guerra ao regime Talibã:

Essa atrocidade [o atentado de 11 de setembro, em Nova York] foi um ataque contra todos nós, contra pessoas de todas e nenhuma religião. Sabemos que a Al-Qaeda ameaça a Europa, incluindo a Grã-Bretanha, e qualquer nação que não compartilhe de seu fanatismo. Foi um ataque à vida e aos meios de vida. As empresas aéreas, o turismo e outras indústrias foram afetadas e a confiança econômica sofreu, afetando empregos e negócios britânicos. Nossa prosperidade e padrão de vida requerem uma resposta aos ataques terroristas. (O Estado de S. Paulo, 8/10/2001)

Nesta declaração, destacaram-se principalmente os interesses de ordem
(A) moral.
(B) militar.
(C) jurídica.
(D) religiosa.
(E) econômica.

Na analise da questão nota-se as seguintes competências e habilidades.

Competência de área 3 - Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.

Competência de área 5 - Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 - Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 - Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Questão 17 (Enem, 2006). Resposta (E) Prova amarela

A moderna democracia brasileira foi construída entre saltos e sobressaltos. Em 1954, a crise culminou no suicídio do presidente Vargas. No ano seguinte, outra crise quase impediu a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Em 1961, o Brasil quase chegou a guerra civil depois da inesperada renuncia do presidente Janio Quadros. Três anos mais tarde, um golpe militar depõe o presidente João Goulart, e o país viveu durante vinte anos em regime autoritário.

A partir dessas informações, relativa a história republicana brasileira assinale a opção correta.
(A) Ao termino do governo João Goulart, Juscelino Kubitschek foi eleito presidente da Republica.
(B) A renuncia de Janio Quadros representou a primeira grande crise do regime republicano brasileiro.
(C) Apos duas décadas de governos militares, Getulio Vargas foi eleito presidente em eleições diretas.
(D) A trágica morte de Vargas determinou o fim da carreira política de João Goulart.
(E) No período republicano citado, sucessivamente, um presidente morreu, um teve sua posse contestada, um renunciou e outro foi deposto.

Na analise da questão nota-se as seguintes competências e habilidades.
Competência de área 3 - Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
H15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência de área 5 - Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 - Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 - Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

CONCLUSÃO

Sabemos que a educação envolve escola, família e comunidade, e todas as iniciativas se aproximam de tentativa de se fazer a melhor educação. Talvez essa seja a motivação para se tornarem tão apaixonados, mas os mesmos não compreendem a educação em sua totalidade. Daí por que vários se envolvem com articulações políticas e de conquista da opinião pública cujo objetivo é envolver todos pela educação. Mas como se forma mobilização sem base social? Porque essa transformação é uma aposta, e não uma certeza. O processo educativo envolve muito mais que avaliações meramente quantitativas ou qualitativas focadas no educando. Envolve o consórcio de professores e educadores que contribuem para a formação cotidiana do educando. Envolve o impacto dos hábitos dos pais. Também sabemos que o perfil do dirigente escolar impacta decisivamente no desempenho de alunos. Mas as avaliações da moda no Brasil não conseguem articular esse potencial. No máximo, apresentam dados frios que não auxiliam os educadores a compreender por qual motivo 30% dos seus alunos não sabem interpretar textos de história. E, assim, lançam mão da tradicional e equivocada aula de reforço, que repete fórmula que já se revelou equivocada anteriormente. Enfim, a educação não vive limitada às boas intenções. Trata-se de um tema lastreado em estudos e pesquisas e praticas efetivas que não geram respostas fáceis.

(Lucimar Simon)

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