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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Texto: EU PONHO 10 NA CABEÇA...

EU PONHO 10 NA CABEÇA...

Quando você pensar que já viu e ouviu tudo nesta vida esqueça, pois não é verdade. Não se iluda as coisas não são como parecem ser. Para bem exemplificar isso vou comentar aqui uma situação que presenciei na escola onde trabalho como monitor em sala de aula. Estava eu tranqüilo, fazendo o famoso “Plano de aulas” acompanhado da professora (M. H. B), quando outra professora entra no local com dois alunos para aplicar um reforço escolar. (J. 08 anos, uma menina) e (J. 09 anos, um menino). As atividades prosseguiam normalmente até que no meio do assunto a menina disse que seu avô tinha uma igreja, e que ela participava nessa igreja. Curioso que sou, comecei a questioná-la algumas coisas, e auxiliado pelas outras duas professoras fomos extraindo dela “algumas informações”. Que ela nós oferecia com clareza.

Primeiro você pode se perguntar por que algumas informações entre aspas. Porque é até difícil imaginar que uma menina de 08 anos tenha tanta informação sobre este assunto e os diversos outros que foram abordados. Ela mora com os avôs, a mãe e uma irmã mais velha. Na casa também moravam dois tios, que estão presos por portarem substancias ilícitas. Ah, só pra deixar claro o reforço era em português. Então já imagina quanto essa menina tinha para falar e nós três ali paramos para ouvi-la atentamente. Ela falou sobre os tios, sobre sua mãe, sua Irma, sobre a igreja e os membros dela, disse que na igreja os mistérios se manifestam através de espíritos que encarnam ou se apossam das pessoas. Parece complicado dizer que uma menina de 09 anos falava isso tudo? Não, não é. Ela explicava sim e detalhadamente.

Logo raciocinando percebemos que a dificuldade que ela tinha em português poderia ser por não ter tanta condição de assimilar as regras embora ela saiba ler muito bem. Mas imagina uma menina de oito anos que saiba tanta coisa fora do contexto escolar e da sua vida típica da idade ter memória e atenção suficiente para assimilar e aprender regras gramaticais. Bem não sei quanto a vocês, mas eu se estiver de cabeça quente ou preocupado não consigo fazer nada com atenção. Mais o surpreendente estava por vir. Ela utiliza uma técnica para fazer as contas de matemática, interessante, claro que para nós adultos não é novidade, mas para a assimilação de uma criação é algo extraordinário.

Palavras dela. “Eu sei quanto são 10 + 10”, É? “são 20”. Como assim são 20? Olha! “Eu ponho 10 na cabeça, ai somo com os dedos das mãos.” Como é? “É sim, você Põe um numero na cabeça e depois soma com o outro, contando com os dedos das mãos”. “Então 10 na cabeça + 10 dedos das mãos são 20”. Interessante eu digo e peço para que faça outras contas. E ela sempre repetia. Eu ponho X na cabeça e... Outra conta. EU PONHO 10 NA CABEÇA...

Obs. Somos tentados a entender o incompreendido, somos vetados e ver a realidade mórbida que assola nossa sociedade. A atualidade ainda não se dispôs a mostrar tudo que nos cerca, logo se surpreender faz parte do imaginário de todos. Mas quer saber? Querendo ou não somos vitimados por um sistema que a cada dia nos expõe de maneira cruel uma face cada vez mais medonha. O ponto e o contraponto não se encontram em lugar nenhum. E nós o que fazemos para mudar ou fazer permanecer esta tão louca realidade que nos assola? As eleições vêm ai. Temos condições de reverter esta situação através do voto? Seremos capazes de fazer com que J e J”s pensem e se preocupem apenas com coisas da sua idade real. Ou vamos continuar “assistindo as J”s e J”s contando que escrevem cartas aos tios que estão na cadeia ou que auxiliam os pastores na igreja numa sessão para expulsar o demônio de corpos possuídos.

(Lucimar Simon)

2 comentários:

  1. É... nossa realidade social é cruel. Essa menina é criada só entre adultos e eles não tem uma noção válida das necessidades de uma criança, pelo visto. Talvez porque nenhum deles teve também, uma educação de qualidade. Sei que o corpo docente não é responsável, já que eles também não recebem o que deveriam para poder trabalhar como cursos de aperfeiçoamento, condições decentes de trabalho, material necessário, espaço adequado, salário digno que não os obrigue a mudar de cidade e se matar em 3 ou 4 empregos. Tudo isso tem que mudar e, com certeza, não é de hoje. Mas me parece que não interessa formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, nunca interessou.
    Enfim, o que podemos fazer é continuar falando e pondo a boca no trombone onde podemos. E ter esperanças... sempre.

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  2. Nossa que texto que misto de sensibilidade e reflexão...

    Lu realmente como professora de criança ja algum tempo as vezes também fico "espantada" com algumas coisas que escuto daquelas mentes brilhante!!!

    bjinhus...

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