Texto: ABUTRES

ABUTRES

A cabeça encostada no travesseiro, o olhar fixo em um ponto, mirando o infinito, parecia realmente extasiado e também parecia não olhar para nada, nada alem daquele pequeno e incrédulo ponto vermelho que se apagava lentamente a sua visão. Qual tamanha dispersão não se dava conta nem onde mais estava seus óculos que nunca se deu conta de usar. Qual tamanha dispersão que nem um abraço apertado da pessoa amada o faria mover seu pesado corpo ao menos em resposta daquele calor que o envolvia.

Imóvel, ali estava, imóvel esta ali por algum tempo que não mesmo podia saber, mas ali estava, com olhares a sua volta, com olhares questionadores, e que fustigavam seu passado, admiravam seu presente e detestavam pensar o futuro, o olhar ainda fixa no infinito, talvez com vontade de deixar na imensidão do vácuo terrestre o grito pedindo para que o deixassem ali os abutres, abutres que esperavam seus olhos fecharem, abutres! Todos abutres, abutres, abutres. Batem asas abutres, abutres. Todos abutres.

EU QUERO O AMOR VERDADEIRO, AMOR QUE VEM DE DEUS.

(Lucimar Simon)