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sábado, 10 de janeiro de 2009

Conto...O GRILO

O GRILO

Quem não daria tudo por uma boa noite de sono depois de um longo dia de trabalho. Roberto trabalhava na prefeitura, no departamento de cultura penso eu, um homem idoso próximo aos 60 anos, porém com muita animação e paciência para tudo e todos principalmente em seu trabalho. Vivia sozinho em uma casa grande construída ainda com seus pais em vida e que ele herdara por ser o caçula da família e isso pesava sobre seus olhos e pensamento, pois todos seus irmãos já haviam falecidos, e os parentes moravam em outras cidades e dificilmente o visitavam, talvez por morar só e não ter muito a oferecer em termos gerais.

Como nem tudo é para sempre os humanos também tem suas limitações. Roberto ficou muito doente, escrevera uma carta a sua irmã e não tardara aparecera em sua casa uma de suas sobrinhas, que viera saber das condições do tio. Moça jovem aproximadamente 28 anos, cabelos loiros, olhos grandes, belo rosto, sorriso majestoso, seria perfeita se não fosse tão desprezível com a situação de Roberto, e se não ali estivesse com outros interesses, pois quando viera sua intenção não era ficar, e sim só ver a situação real do tio. Porém observara que o velho tinha mais que uma casa e pequenos valores pessoais, logo essa seria a sua chance de fazer um “pé de meia” já que o velho não tinha herdeiros e não fizera testamento, poderia ela se beneficiar dessa situação ficando após os dias de cuidados com os pertences e bens do velho tio que murmurava quase dia e noite da dor que a enfermidade o causara.

Uma noite acometido pela dor Roberto ouvia um barulho perturbador do lado de fora da casa, foi até a janela observar e ouviu um cri-cri, outro cri-cri, mais um cri-cri, mas nada vira que pudesse identificar com os olhos, mas saberá o que causara este barulho de certa forma irritante aos seus ouvidos. Durante varias noites aquilo persistia e Roberto sempre ia a janela tentar ver o acontecia e se enxerga o malfeitor deste som irritante.

Depois de uma semana numa noite de lua clara e de volta o cri-cri, Roberto vaia a janela e observa o Grilo em cima do caixote de lixo, remexia, remexia e fazia cri-cri. Remexia, remexia e fazia cri-cri, aquela cena e aquele barulho não agradavam seus olhos e ouvidos, sentiu um aperto em seu coração, e então resolveu agir contra aquela situação.

A doença se agravara e as complicações fizeram que Roberto sentisse que sua hora era próxima, e novamente indo a janela naquela noite vira ali o Grilo na mesma posição, sentiu que ele teria que dar uma solução para aquilo, depois de tantos anos de vida não podia permitir em seus últimos instante essa situação, queria descansar em paz e este era o momento de agir em prol de sua alma que ainda na dúvida do seu caminho o colocara nesta difícil condição de enfermo terminal. Realmente aquilo era uma mensagem para ele e teria que agir, foi ao escritório e la ficou por mais de duas horas. Saindo encontrou sua sobrinha na porta, que teria ido ao quarto e não o encontrado, tudo bem? Interrogou ela ao tio, o mesmo respondeu agora sim, e retornou ao quarto.

A sobrinha tinha certeza que naquele momento ele tratara do testamento, fora ao escritório procurar vestígios mas nada encontrou de concreto, a não ser uma folha amassada no lixo e uma caneta em cima da mesa. A folha do cesto de lixo não deu importância até ter certeza que não achara nada do testamento, desistiu e recolheu-se ao seu quarto, mas não restava dúvidas ele fizera o testamento, e seu nome estava escrito nele sem dúvidas, restava saber em qual proporção era citado seu belo nome.. Bianca, Bianca é seu nome.

A noite estava fria, sentia-se ao longe o soprar do vento cortando as avenidas subindo montanhas e trazendo dores nas juntas do velho homem a qual estava debaixo dos cobertores coberto agora por uma satisfação sem igual. Varias noites seguiram no mesmo ritmo, e em uma delas Roberto não resistiu, não resistiu o frio daquela noite debaixo do calor de seu cobertor, não resistiu ao longo de seus 60 anos as ultimas semanas de dor, não resistiu, não resistiu.

Amigos estiveram no velório, colegas de trabalho apareceram. A sobrinha os recebia com um tímido sentir de um choro. Alguns familiares fizeram questão de não comparecer entre os poucos que vieram, passaram por la também alguns vereadores, secretários e outros funcionários públicos de outras divisões da prefeitura. O velho e bom Roberto como já foi citado era de muitos amigos quando ainda exercia a função pública, e estes compareceram ao funeral e seguiram em seu enterro.

Resolvidos os papéis fúnebres assim que foi dado o último adeus. No dia seguinte Bianca recebe a visita de um oficial de justiça do cartório local. Foi informada que o tio Roberto teria deixado um testamento, e que o faria ser conhecido em leitura pública aos presentes no cartório no dia seguinte as 12:00 e que teria que está presente alguém da família ou possíveis herdeiros.

E assim o oficial seguiu com a leitura; Eu Roberto de Almeida Silva, deixo meus bens, casas, terrenos, carros e outros aqui não citados para que sejam vendido e utilizados na formação de uma Instituição com o propósito de resguardar e amparar todas as crianças e menores abandonados dessa cidade, e nomeio minha sobrinha Bianca de Almeida Prado para dirigir e controlar esta Instituição. A mesma se beneficiara de duas contas bancarias que segue em nome dela própria. Que seja feita a vontade deste que aqui os escreve humildemente nesta noite de frio e pensar em um passado não muito distante.

Meses depois a diretora da Instituição Roberto de Almeida Silva, estava ao pátio aplicando uma lição e um sermão em três garotos internos que faziam uma travessura, os mandou para dentro acompanhado de um instrutor porém reteve o último que tinha 09 anos e que a mesma tinha para com ele uma atenção maior devido algumas limitações, e direcionando o olhar a ele perguntou: Grilo, você entendeu tudo que eu disse?

E então, qual é seu Grilo?

Sinceridade?
"Menor abandonado" é sinônimo de "criança carente", mas nossa sociedade a julga, condena e executa antes dela se tornar fora da lei. Ela já nasce estigmatizada e relegada ao seu futuro papel social (ou anti-social) sem direito à defesa.

A única maneira de resolver esse problema é romper o círculo vicioso que temos no momento e para isso a única solução é a descrita acima. Não vejo outra saída, mas como isso não será feito, ainda teremos muitas dessas crianças se tornando bandidos que gerarão mais bandidos e os únicos que lucram com essa nefasta situação são os políticos que se fartam com a corrupção dos presídios, os advogados "porta de cadeia" aos quais nunca faltarão clientes e aos integrantes das Ongs de direitos humanos que vivem da desgraça alheia, pois nessa terra só bandido tem direitos humanos enquanto suas vítimas não.É triste a gente ver a manchete de jornal revelar todos os nossos preconceitos velados, hipócritas e comodistas:

"Menor mata criança a tiros na cidade Fulano de Tal". Pergunto: O menor infrator, também não é uma criança? Não estou falando de cavalões de 17 anos e 364 dias, mas de crianças pequenas que não tem onde cair mortas e caem nas mãos de criminosos adultos. Fui sincero. Rezo todos os dias para que seja "inventada" outra solução, mas até agora não me foi apresentada nenhuma que demonstrou ser eficaz. Muito pelo contrário, a cada "solução milagrosa" que os malditos políticos inventam, a coisa piora.

Pense nisso!

(Lucimar Simon)

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