Acho que coisas importantes acontecem em todo momento na vida das pessoas, e hoje aconteceu uma coisa que não diria importante, mais, sim interessante, gosto das coisas interessantes, mas o que pode ser interessante para mim não poderia ser interessante para você (leitor (a) deste texto). Bem vamos deixar de falar na palavra interessante e mostrar o que realmente interessa neste assunto que pretendo delinear neste pequeno artigo.
Hoje 16/12/2008, acordei cedo, dia marcado para uma consulta no Hospital Universitário Cassiano de Morais (“Hospital das Clinicas” em Maruípe). Bem então devo mencionar que fui a um oftalmologista (tenho uma deformação nas córneas, nada na verdade sou quase cego) mais isso não vêm ao caso no momento. Mas é importante dizer que cheguei no prédio as 7:00h da manhã e sair as 18:00h da noite (Ah não fique triste por mim, fique pelos diversos idosos, mães e crianças que me fez companhia durante o dia). Pessoas de diversas cidades do interior do Estado como: Alegre, Aracruz, Santa Tereza, Santa Maria, e outras cidades daqui mesmo da região metropolitana. (Cariacica, Vila Velha, Viana, etc).
Considero-me uma pessoa bem comunicativa e detesto estar num lugar e não fazer novos amigos ou conversar com as outras pessoas que ali estão. Logo percebi que seria um longo e demorado dia, e como já mencionei a cima foram mais de 10hs de espera e uns 35 min de consulta. Então nessas longas horas observei muitas coisas, daí, surge o conteúdo deste texto que agora você está lendo.
Entre eles tinham um jovem de 32 anos acompanhando seu pai um senhor de aproximadamente uns 55 anos. É este jovem que também acompanha o senhor J. F. A. e todos são da cidade de Alegre (é aquela cidade onde ocorria um grande festival de música até ano passado. Afinal alguém sabe porque não tem esse ano?) localiza-se próximo a Cachoeiro Itapemirim[1] que está a mais ou menos 139 km de Vitória.
Entre diversos rostos, adultos, idosos e crianças, tive uma ótima conversa com o senhor, J. F. A, um senhor de 75 anos e que goza de um bom humor incrível. Ah ele era o numero 42 da lista de 65 pessoas que seriam consultadas pelo médico oftalmologista e sua junta de auxiliares acadêmicos. (alunos da UFES). Com uma estatura pequena, já com o corpo curvado pela idade e com cabelos ainda em tom escuro, talvez por uma coloração artificial, mais creio que não, acho ainda eram de cor natural.
Então ele me contava sua trajetória até ali, acordara as 02:50 da manhã entrara no transporte da prefeitura com mais 12 pessoas e viera até aquele local fazer sua consulta, fora encaminhado por uma outra instituição após duas cirurgias e ainda sua dificuldade de visão o fazia procurar novos recursos e /ou outras opiniões médicas.
O senhor J. F. A, disse que até seus 31 anos (minha idade hoje) ele era trabalhador rural no plantio e colheita de café e outros gêneros de subsistência (arroz, feijão, milho, etc) na cidade de Alegre, e quando completou esta idade se mudou para o Rio de Janeiro em busca de emprego na indústria. (convenhamos, foi para o RJ em 1963). Bem embora a historiografia denota um grande crescimento da economia neste período sabemos que nem tudo eram flores. Nem a criação de Volta Redonda, e instalação de multinacionais e seus complexos industriais garantiu ao senhor J. F. A que conseguisse seu almejado emprego na indústria ou ao menos formal com carteira assinada coisa que logo mais seria garantida nos discursos governistas no rádio e jornais da época.
Então agora morando em Nova Iguaçu RJ e já casado tinha um filho (Ah detalhe ele fora casado duas vezes e duas vezes ficou viúvo, pense, o coroa mandou duas mulheres para buraco. Não! Ele não as matou, morreram de morte que não foi a mim informado.) Então el arrumou uma alternativa para sustentar sua família que foi viajar numa linha férrea de uma cidade para a outra, dentro da “Maria Fumaça” vendendo frutas, balas, doces e outros artigos de origem alimentícia. Com essa trajetória sobreviveu até o casamento de seu filho mais velho e o falecimento de sua primeira esposa. Anos depois se casou novamente e com a nova esposa teve duas filhas, hoje já estão casadas, e uma mora na mesma cidade (Nova Iguaçu) e a outra o acompanhou junto com sua esposa para Alegre, cidade onde ficou viúvo pela segunda vez, e reside desde a década de 90.
Então, passamos para outra sala para esperarmos por mais algumas horas, e eu ainda bem me localizava no numero 43 da mesma lista que citei algumas linhas acima. Logo fui encaminhado junto com essa memória fascinante que me renderia este artigo. Em pé no corredor e com uma disposição incrível relatava diversos pontos da sua vida nas décadas e nos seus respectivos governos, entre eles, de Juscelino Kubchek, Jânio Quadros, João Goulart e a Ditadura Militar e sua evolução até a redemocratização e os dias atuais.
Neste momento vou deixar a historiografia de lado e voltar á questão chave desse texto. Qual é mesmo? Qual que nem me lembro mais? Ah sim! Foi aqui que depois de um comentário do jovem que acompanhava o pai fez com o senhor J. F. A que saiu a grande motivação para finalizar este texto. “É senhor J. F. A vamos chegar tarde em casa hoje e sua noiva vai ficar preocupada”. Eu fiquei muito interessado nesta frase e você leitor (a) também ficou?
E não é que aos 75 anos de idade quase aos 76, que segundo ele completaria em Março do ano de 2009 o senhor J. F. A vai se casar pela terceira vez, e imaginem com uma mulher vinte e dois anos, mais jovem que ele. Professora aposentada e também moradora da cidade de Alegre. Ela pediu á dois meses atrás a mão do ilustríssimo senhor J. F. A em casamento, e este já tem data marcada para Janeiro de 2009. Acreditem ou não ele está super animado e me relatou detalhes que aqui julgo não pertinente escrever. Mas posso afirmar por minha experiência ser uma sensação incrível ouvir esta história de vida, deste humilde aposentado com suas veste simples calça azul, camisa azul, tênis branco com detalhes em preto e com um sobre tudo (era um paletó cinza na verdade) que cobria maior parte de sua pequena estatura já castigada pelo tempo.
Um senhor J. F. A não está disponível neste artigo por sua estatura, ou sua simpatia, o senhor J. F. A está aqui para servir de exemplo, porque vários senhores J. F. A estão ai enfrentando jornadas de 20 ou 30 horas por dia para obter uma consulta no nosso SUS, (Sistema Único de Saúde), onde enfrentam chuva, sol, estradas ruins, transportes debilitados, riscos de morte nas horas de transportes até a capital. Quantos senhores J. F. A não possuem a mesma disposição, não possuem a mesma alegria ao relatar sua vida a um estranho que acabara de conhecer numa fila de um ambulatório? Pense nisso se ao final desta reflexão você não se sentir solidário com esses senhores J. F. A esqueça este texto e esqueça que um senhor J. F. A têm quase 76 anos de idade e vai se casar no mês de Janeiro de 2009, na cidade de Alegre, município de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo.
O corpo que aos meus jovens anos sustento nada de mim vale se não posso garantir sua invulnerabilidade, sua saúde, este corpo que apodrece a cada dia um dia ocupará uma matéria sólida morta a qual meu pensamento quer conduzir, mas as juntas moleculares não dão condições de peregrinar até um altar e agradecer por esta ainda sentir o calor do sol, o frio da chuva, mas agora sem o fervor da minha juventude, e a vontade da alma não é o suficiente para chegar até a praia e sentir o tocar das brisas marítimas. Essas brisas me lembram amores, carinhos, amigos, dores, sensações perturbadoras. Mas as quero sentir novamente, mais uma vez. Vêm brisas do mar. Tocar esta velha carcaça que logo entrego aos vermes ao seu bel prazer. Vêm brisas do mar. Fazer me sentir vivo na minha morte, e morto na minha vida ao em minha face tocar e minha rigidez de pele não a satisfazer como era aos meu dezoito anos.
Senhor J. F. A eu me solidarizo com sua força de vontade, com sua perseverança e bom humor, sua alegria hoje me fez ver que somos ingratos com nós mesmos e não damos valor correto a nossa vida, vou tentar a partir deste dia converter cada momento, cada dia em um dia melhor, e que eu consiga, pois não sei se tenho a força que tu corajoso homem têm.
Agradeço pela experiência de vida que não só o senhor mais todos os rostos que presenciei naquela fila do ambulatório, inclusive o meu rosto que notei cansado ao levar uma mão com água para lavá-lo a uma certa hora desse longo dia que passamos numa fila de hospital. E que Deus possa tê-lo guiado em um retorno seguro até sua noiva, até sua casa.
[1] Cachoeiro de Itapemirim é um município brasileiro do estado do Espírito Santo. Localiza-se a 20º50'56" de latitude sul e 41º06'46" de longitude oeste, a uma altitude de 36 metros. Sua população estimada para 2007 foi de 198.962 habitantes.[2] Ocupa uma área de 892,9 km². O município fica situado no sul do estado, às margens do Rio Itapemirim. É carinhosamente chamado de A Capital secreta do mundo. A cidade, com altitude média de 37 metros acima do nível do mar, fica a 139 quilômetros da capital, Vitória.
(Lucimar Simon)
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